quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Fim do egoísmo



Temos buscado em Deus soluções e estratégias para sermos bem- sucedidos em nossa carreira cristã, familiar e profissional, especialmente em tempos turbulentos como os de hoje. Freqüentemente oramos: “Oh, Deus! Estamos em apuros, socorre-nos em nossas necessidades. Ajude-nos a avançar e a honrar ao Senhor em nossos compromissos. Ajuda-nos, também, a suprir todas as necessidades ao nosso redor”.

Ao pensar sobre isso, me veio à memória a pergunta do Senhor: “Que tens em mãos?”. Então ele me fez lembrar que quando seus discípulos ficaram espantados com toda aquela multidão no deserto sem comida, ele não proveu algo novo, mas os levou a considerar o que já havia provido e a aplicar pela fé o que tinham em mãos. Isso era um treinamento contra a tendência humana de esperar um milagre do céu sem nossa participação ou de buscar racionalmente uma solução que, humanamente, seria impossível de se obter no momento.

O que temos em mãos hoje? O que Deus proveu hoje? Deus estava treinando seus servos a confiarem plenamente nele e a andarem no campo de sua providência divina, a fim de serem de fato seus cooperadores. Ele também sabe que nossa tendência é apegarmo-nos a coisas visíveis e às que nós mesmos geramos, no campo da lógica, no lugar de depender de sua providência. Somos tendenciosos a não valorizar o que ele já providenciou no momento, pois nossa ótica carnal é totalmente diferente da divina. Ele provê coisas pequenas para operar o milagre da multiplicação, mas sutilmente preferimos as grandes, as que podemos administrar sem ser necessário seu milagre.

Na passagem da multiplicação dos pães (Mt 14.13-21), vemos que Jesus já sabia o que fazer. Ele estava provando seus discípulos. Ele disse: “Dai-lhes vós mesmos de comer!”. Como não sabiam o que fazer, foram a Jesus, e Jesus mostrou que a solução era valorizar o que ele já havia provido.

Jesus mandou que suprissem a multidão. Na verdade, estava treinando seus discípulos a serem seus colaboradores. Jesus faria sua parte, abençoando, mas os discípulos teriam de fazer a parte deles, confiando e valorizando o que Deus já havia provido para o momento. Cinco pães e dois peixinhos nada são diante da grande necessidade, é verdade, mas isso quando estão nas mãos dos homens. Quando foram transferidos das mãos deles para as do Mestre, ele ministrou a bênção da multiplicação e todos foram supridos.

Por que somos tão infrutíferos e não saciamos as necessidades dos que estão ao nosso redor? Porque seguramos em nossas mãos o que Deus proveu, e isso gera morte. Pedimos que ele faça milagres, mas nem sempre estamos dispostos a investir nas coisas que já colocou em nossas mãos. Deus somente pode operar quando entregamos em suas mãos o que antes colocou nas nossas. Antes que ele faça um novo milagre, ele quer transformar em vida o que hoje é morte por estar sendo ignorado e seguro em nossa posse.

Com Moisés, Deus manifestou o mesmo princípio. No lugar de clamar a Deus por milagres, ele deveria usar o bastão que estava em suas mãos para abrir o Mar Vermelho. Como disse Martin Luther King: “Esperar que Deus faça tudo enquanto o homem não faz nada não é fé, é superstição”. Impedimos a bênção de Deus quando não valorizamos o que ele já proveu.

Normalmente, somos levados a um de dois extremos: ou lutamos com nossas forças para fazer as coisas, sem depender dele, ou esperamos negligentemente que ele faça tudo, sem nos movermos em nada. Nesses dois extremos, o inimigo sempre nos induzirá a ficar ofendidos por acharmos que Deus não está sendo justo em não nos socorrer; temos a impressão que ele nos desamparou. Mas, na verdade, ele está procurando nos treinar no caminho do companheirismo vivo e eficaz de sermos seus colaboradores, de acordo com seus princípios.

Por que você acha que Deus deve prover nossas necessidades? E o que temos feito com o que ele já nos supriu? Deve ficar claro para nós que a provisão do Senhor sempre anda alinhada ao seu soberano propósito. Deus nos ama, mas quer nos livrar da vida egoísta. Ele nos ama, mas odeia nosso pecado de querer nos relacionar com ele para obter benefícios próprios. Ele nos ama e deseja que o amemos ao ponto de valorizarmos somente o que de fato merece real valor, ou seja, as coisas que estão sustentadas pela verdade e que Deus, nosso provedor, nos destinou. Ele não é tirano e não quer nos manipular, mas também não é irresponsável para suprir-nos ao ponto de nos deixar no caminho dos tolos que amam a vaidade e cultivam a falsa felicidade que conduz à perdição.

O povo de Deus crucificou Jesus, o Messias, porque idealizaram um Messias que correspondesse à vida egoísta e religiosa que levavam. Quantas coisas ele proveu como o melhor para nós e nós as crucificamos? Olhe ao seu redor. O que Deus entregou em suas mãos para colaborar com ele? Com nosso orgulho e ambição facilmente matamos tudo que está ao nosso redor. Não matemos o que Deus nos confiou, mas coloquemo-lo confiantemente nas mãos do Mestre diariamente para que seja transformado em milagre e vida aos que estão ao nosso redor.

Deus escolheu um Davi franzino, e sua família e seu povo o ignoraram. O povo rejeitou Moisés, os profetas, os apóstolos, o próprio Criador. À semelhança da igreja em Corinto, que rejeitou Paulo, o apóstolo que Deus proveu, queremos líderes e irmãos perfeitos, enquanto rejeitamos os que ele nos deu. Com isso, demonstramos o quanto somos rebeldes e não buscamos sujeição a ele nem relacionamento com os santos à maneira de Deus, mas sim anarquia e ambiente para satisfazer nosso egoísmo.

A verdade é que se desejamos de fato construir uma vida cristã saudável, um relacionamento saudável, uma família saudável, um ministério frutífero, teremos de nos acertar diretamente com Deus no tocante a reconhecer e valorizar o que ele colocou em nossas mãos, pois somente administrando adequadamente o que ele nos confiou é que poderemos avançar para coisas maiores. “Quem é fiel no pouco também será no muito e quem é infiel no mínimo também o será no muito.”

Esse é um dos principais motivos por que encontramos cristãos em depressão, isolados, moribundos, divididos com outros, amargurados, porque não valorizam as pessoas que Deus colocou ao seu redor. Esse é o motivo por que também há tantos que buscam se casar e ainda estão solteiros, porque ambicionam alguém perfeito aos seus olhos egoístas e desprezam os que Deus proveu. Esse é um dos motivos por que fracassamos na vida profissional, no ministério, na edificação da igreja e em tantas outras coisas, porque almejamos coisas melhores, em detrimento da vontade de Deus, quando desprezamos o que ele já proveu, as que, quase sempre, são coisas humildes e pequenas aos nossos olhos entenebrecidos.

Que venhamos hoje nos render ao Senhor e procurar honrá-lo, valorizando o que ele já nos proveu e nos arrependendo por menosprezá-lo. Peçamos a ele para nos ajudar a exercitar fé na sua providência divina, transferindo para suas mãos nossos cinco pães e dois peixes e buscando sua bênção de multiplicação em tudo que está ao nosso redor. Valorizemos as pessoas que ele nos deu, os irmãos, a casa, os bens etc., e aí, sim, abriremos caminho para ele ampliar nossas conquistas segundo sua vontade.

Nossa “ambição” deve ser cumprir os propósitos de Deus através de nossas vidas e daquilo que ele colocou em nossas mãos. Essa é nossa missão. Se buscarmos nosso sucesso, virá o fracasso. Se buscarmos cumprir os propósitos de Deus, seremos seus colaboradores, e isso é sucesso e privilégio imerecido. Se andarmos em seus caminhos, ele nos sustentará, mesmo com lutas.
O que Deus colocou em suas mãos?

Escritor: Gerson Lima

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