domingo, 25 de novembro de 2007

Você é uma pessoa grata? comparado a um judeu ? acho que não ...


Walter Homolka
Dedicado ao rabino D. Rayner, Londres, ao 80º aniversário

O substantivo benção significa na Bíblica Hebraica BeRaKaH. BaRUK, então, significa "o abençoado". As palavras BaRUK e BeRaKaH se derivam ambas da raiz hebraica Bet-Resh-Kaf, que significa "joelho"1. Genuflexão e inclinação são sinais de respeito. No entendimento hebraico, não Deus abençoa a pessoa humana, mas também a pessoa humana louva (abençoa) a Deus, como isso já os Salmos expressam: Assim Te louvarei durante toda a minha vida, levantaeir as mãos no Teu nome (Sl 63,5).2

Benção como afirmativa de Deus

A palavra hebraica BaRUK, daí, chega a ser um atributo que descreve Deus como a fonte de todas as benções.3 Quem profere uma bênção, expressa espanto e admiração sobre como abençoada é a ação de Deus em nos humanos. Como uma das primeiras promissões, Deus diz a Abraão "[…] Por ti todas as gerações da terra serão abençoadas" (Gn 12,3). Bênção e maldição não só proferem um desejo, mas querem efetuar o que dizem. O efeito, porém, não funciona automaticamente como no feitiço. Depende de Deus. Enquanto a feitiçaria está sendo estritamente recusada na Bíblia, a bênção joga um papel central. A bênção promete à pessoa humana as coisas pedidas a Deus. Isso é, na Bíblia, primariamente coisa bem concreta, como descendência, fertilidade, colheita boa e bem-estar em geral. Mas também diz coisas abstratas, como paz e felicidade. Anteposta, se pronuncia pela bênção a participação na ação salvadora de Deus. Ela é, portanto, uma forma verbal de expressão e concretização do relacionamento com Deus.

Abençoar é também mais que um bom desejo ou a força de pensar positivamente. Como forma de linguagem de fé, a bênção vive da relação a Deus, recebe a força e realidade dessa, encontrando na vontade de Deus a sua margem e limites. A bênção concede o que a fé aceita de Deus. Confiança contra razão qualquer destaca Jó, o qual, também no sofrimento, não amaldiçoa a Deus, mas O louva ainda: O Senhor o deu, o Senhor o tirou; louvado seja o nome do Senhor (Jó 1,21).

A bênção tem uma posição importante de lugar já na Bíblia, até ainda caráter de legado (Dt 33). Quando os patriarcas - especialmente antes da sua morte - abençoam as suas crianças (cf. a bênção de Isaac Gn 27,1-40, a bênção de Jacó Gn 49,1-27), a bênção pronunciada não pode ser retomada, mesmo quando se basear num erro, como em Gn 27: Jacó capta de Esaú a bênção de primogênito e o mantém, também depois de que Isaac ter percebido o erro4. Assim, o irmão mais novo obtém autoridade e poder de disposição sobre o mais idoso.5

A bênção de sacerdote

O texto clássico é a bênção sacerdotal aarônica (Nm 6,24-26), que já foi pronunciado no Templo e que ainda hoje está sendo pronunciado pelos sacerdotes (KoHaNÍM):
"O Eterno te abençoe e te guarde.O Eterno te deixe luzir a Sua face e te seja clemente.O Eterno volte a Sua face a ti e te dê felicidade."6

Achados de Ketef Hinnom, ao sudoeste da cidade velha de Jerusalém, provam que esse texto de bênção já era conhecido no século 7 aEC quase no teor hodierna, sendo carregado gravado no enfeite de prata. Isso provam as anexas de sepulcro em forma de dois pequenos amuletos de prata, os quais usam o texto da bênção aarônica quase na forma da nos conhecida forma bíblica transmitida.7

Desde tempos mais antigos, o serviço do Templo termina com a bênção sacerdotal. E os sacerdotes e levitas se levantaram e abençoaram, e a sua voz foi atendida, e a sua oração veio na morada santa de Deus no céu (2Cr 30,27).

Esse uso de bênção continua no culto hodierno de sinagoga no culto liberal, antes de tudo no fim da oração depois do QaDISh e canto final, nas comunidades ortodoxas antes da última BeRaKáH "SIM ShaLÔM" [concede paz!] na oração de sete na manhã do sábado e no serviço de MUÇáF e MiNHaH, bem como no serviço de Ne`IláH no Dia de Reconciliação (Ta'anit 26b). Comunidades ortodoxas convocam para isso, por vezes, os descendentes dos sacerdotes, os KoHaNÍM. Esse privilégio não se realiza nos Judaísmos conservativo e liberal como também não a nomeação dos levitas.

O mesmo teor da bênção aarônica os pais também usam com bênção sobre as sua crianças: no QiDUSh à noite da sexta feira, na véspera do Dia de Reconciliação e na conclusão de casamento sob a HuPáH (baldaquino de casamento).

Do levantar até ao deitar: cem ditos de bênção

A MiShNáH (cerca de 200 dEC) começa como um tratado sobre bênção e ações de benzer (BeRaKôT). Com isso, está sendo sublinhada a importância da bênção exatamente na tradição judaica pós-bíblica, No Judaísmo antigo e também no cassídico de hoje a bênção por um afamado e um venerado TsaDIK ou rábi joga um papel. Bênçãos (BeRaKôT) são forma especial de oração, estando ser faladas freqüentemente no dia em dia. No talmude babilônico, antes de todo no (BeRaKôT) 60b, se encontra uma lista toda de bênçãos. A tradição judaica exorta cada judeu e judia a proferir diariamente cem bênçãos. Pela recitação do SheMONeH-`EsRêH (Oração de Dezoito) três vezes ao dia, 57 bênção estão sendo proferidas diariamente em cada dia da semana. A primeira BeRaKaH do SheMONeH-`EsRêH é esta:

Bendito sejas Tu, Eterno, […] que fazes benefícios felizadores e és proprietário do universo, Te lembras da piedade dos pais e trazes um salvador aos filhos dos seus filhos por causa do Teu nome em amor. Rei, ajudador, salvador e escudo! Louvado sejas Tu, o Eterno, Escudo de Abraão!8

E há, no decorrer do dia, muitas ocasiões de alcançar o número de cem. Assim, já no início do culto da manhã há as BiRKôT HaShaHaR (bênções de manhã). Com essas benções os judeus começaram o dia. No século 9, Rav Amram as incluiu no culto formal de manhã. Benções são também proferidas também em muitas ocasiões e acontecimentos que ocorrem diariamente. A existência judaica está determinada por entretecer o dia-dia com benções e benzer. Por isso, nasce uma cultura autêntica de benzer, a qual ultrapassa a margem do culto divino.
Benções como reconhecimento de Deus

Em princípio, distinguimos três espécies de benções: a bênção antes de tomar um material (BiRKôT HaNaÁH), antes de um cumprimento de mandamento (BiRKôT HaMiTsVôT), bem como a certos tempos e ocasiões (BiRKôT HODaÁH). Benções antes de tomar coisas materiais (p. ex. comer, beber, roupa nova) louvam a Deus como o criador das coisas que tomamos ou queremos tomar em uso. Assim, a bênção sobre o vinho: Louvado sejas, oh Eterno, nosso Deus, Rei do mundo, que criaste o fruto da videira, e sobre o pão: Louvado sejas oh Eterno, nosso Deus, que proferes pão da terra, louvam Deus como doador desses dons. A bênção sobre roupa nova diz diante de Deus que é Ele que veste os nus. Pelo usa da BeRaKáH reconhecemos Deus como o criador de todas as coisas, sem Cuja permissão não nos devemos servir da Sua criação. A BeRaKáH pede a permissão de Deus para usar da coisa, cuja origem - como todo o criado - não jaz em nós, mas sim em Deus.

Com benções antes do cumprimento dum mandamento louvamos a Deus como aquele que nos santificou pelos mandamentos e nos mandou exercer a ação que estamos agora começando a realizar. O pronunciamento dessa BeRaKáH pertence essencialmente ao cumprimento dum mandamento. A tradição judaica avalia aquela MiTsVáH (ação boa) como mais valiosa, a qual foi cumprida por causa de consciência de dever, e não somente por acaso ou por gosto. O falar da BeRaKáH, portanto, orienta o nosso olhar, e com isso, ao fato de que estamos, com os nossos obrigações religiosas, na responsabilidade perante de Deus. Nisso importa que tais benções falemos sobre todos os MiTsVôT, sejam elas derivadas da Bíblia ou formuladas mais tarde por interpretações rabínicas.

A interpretação da tradição judaica pelos rabinos, por isso, experimenta, portanto, uma posição de valor alta semelhante ao próprio texto bíblico.

Em benções, que estão sendo proferidas em certos tempos ou ocasiões, p. ex. olhando para um arco íris (Louvado sejas Tu, o Eterno, nosso Deus, Rei do mundo, que Te lembras da aliança, manténs fielmente a Tua aliança, cumprindo a Tua palavra); perante dum rei ou chefe de estado, no ouvir de notícias boas ou más, ou vendo beleza especial, Deus está sendo reconhecido como a origem última e final de tudo o bom e mal no universo todo. BeRaKôT, portanto, não estão sendo proferidas não só sobre boas coisas, mas também sobre más. Nesse caso, Deus está sendo louvado como "juiz justo". Com isso, acentua-se enfaticamente que - além da nossa capacidade de conhecer - acontecem também coisas más por razão reta.

Muitas das bênçãos hoje em uso foram formuladas por Esra [Esdras] e a Grande Assembléia faz cerca de 2500 anos. Todas as BeRaKôT usam a versão BaRUK ATá ELoHÊNU MèLeK Há`OLòM [Louvado sejas Tu, oh Eterno, nosso Deus, Rei do mundo). Pelo Atá [Tu] familiar se expressa a nossa proximidade e o nosso relacionamento íntimo a Deus. Na segunda parte, a BeRaKáH muda para a terceira pessoas do singular. Podemos isso ver, exemplarmente, nas : BeRaKôT HaMiTsVôT: "Louvado sejas Tu, oh Eterno, […] que nos santifica pelos Seus mandamentos e nos manda […]". Assim se liga, na bênção, a pronúncia de proximidade grande a Deus com a expressão da distância e indisponibilidade transcendentes. Esse paradoxo de proximidade e distância infinita entretece a relação judaica a Deus.

A bênção depois de comer: BiRKaT HaMaZÔN

A oração de agradecimento depois da refeição,9 uma das orações mais importantes no Judaísmo, nunca está sendo proferida na sinagoga, mas sim no altar de casa, na mesa de comer. O agradecimento de mesa se baseia em Dt 8,10: Se te tiveres saciado e satisfeito, deves agradecer ao Eterno, teu Deus, pela terra esmerada que Ele te deu. Esse mandamento está sendo cumprido pelo agradecimento de mesa.10

A BiRKaT HaMaZÔN (bênção sobre a comida) está sendo pronunciado depois de cada refeição completa, quer dizer na qual pão foi consumido como alimento básico.

No yidiche [dialeto alemão criado por judeus], se fala também de benschen, palavra que deriva que se deriva do latim bendicare (benzer). Quem fala de benschen, se refere, na maioria dos casos, à bênção de mesa. Essa bênção de mesa está sendo pronunciada adicionalmente às benções antes da refeição. Consiste de quatro sentenças de bênção. Três delas foram formuladas no tempo de Esdras e da Grande Assembléia, a quarta foi acrescentada somente depois da destruição do Segundo Templo.

A BiRKaT HaZóN (benção sobre o alimento) agradece a Deus por doar alimento ao mundo.

A BiRKaT HaÁRetS (benção sobre a terra) agradece a Deus por nos ter conduzido do Egito, concluiu a Sua aliança conosco e nos deu a Terra de Israel para herança.

A BiRKaT YeRUShaLáYiM (bênção sobre Jerusalém) recorda da Jerusalém reedificada como trono de Deus e da vinda da época messiânico.

A BiRKaT HaTOB VeHaMeTÍB (bênção sobre o bom e benfeitor) enfatiza a bondade de Deus como origem de todo o bom. Essa idéia já é antiga, mas foi incluída aqui somente depois da destruição do Templo.

A essas quatro benções acrescentam-se, na forma plena do agradecimento de mesa, salmos e provérbios conforme a ocasião e caráter festivo.

Bênção e benzer como ato de obrigação repetida

A onipresença de bênção e benzer no Judaísmo é problema central da praxe judaica religiosa. Os judeus experimentam assim que a sua vida perante da face de Deus está abençoada, mas também que a sua vida da fonte do poder criativo de Deus deve chegar a ser uma bênção para o mundo e para todos os homens. "TIQUN Ha`OlóM - o saneamento do mundo - só pode sair, quando deixarmos a salvação de Deus se efetuar por nós trazermos a bênção de Deus para dentro do mundo.11

Pois pela bênção, nós nos voltamos cada vez de novo ao mundo e aos seus criaturas, pondo-as em relação conosco e ganhamos perspectivas novas.
Louvado sejas Tu, Eterno, nosso Deus, Rei do mundo,Que não nos criou como estranhos dele.

TExto Alemão
Notas: Vejo no fim do texto alemão.

Tradução: Pedro von Werden