sexta-feira, 11 de abril de 2008

Uma versão clara do episódio de Ana

A DEFESA DE ANA

Num desses equívocos imperdoáveis cometidos por ministros religiosos, o sumo sacerdote Eli, em vez de oferecer o ombro para Ana desafogar a sua aflição, tratou-a como uma mulher embriagada (a palavra do original pode significar também mulher vadia, mulher perdida, descarada ou vagabunda). O fato aconteceu em Siló, a 35 quilômetros ao nordeste de Jerusalém, onde se localizavam o santuário central e a arca da aliança, lá pelo ano 1.100 antes de Cristo.

A defesa de Ana, até então estéril, pode ser parafraseada assim: “O sacerdote se equivocou. Não bebi vinho nem qualquer outra bebida forte. Não estou embriagada. Não sou mulher vadia. Tenho marido e só não tenho filhos porque o Senhor tem me deixado estéril até agora. Estou apenas chorando, derramando o excesso de minha tristeza diante do Senhor, desafogando a minha alma, desabafando meus segredos e minhas dores, suplicando o fim de minha esterilidade, clamando a Deus por um filho e prometendo consagra-lo ao Senhor logo após o desmame. Não estou bêbada. Estou triste, muito triste. Estou angustiada, muito angustiada. Estou amargurada, muito amargurada. Estou humilhada, muito humilhada. Estou cheia, muito cheia, de Penina, a outra mulher de meu marido, que me irrita, me provoca, me deixa com os nervos na flor da pele. Estou chorando, chorando muito. Estou pedindo, pedindo muito. Estou prometendo, prometendo muito!” (1 Sm 1.9-20.)

Dois ou três anos depois, Ana voltou a Siló, com o pequeno Samuel e mais um filho no ventre, para cumprir o voto feito anteriormente e lá deixou para sempre o primogênito. Então, ela se encontrou com o sacerdote Eli e se apresentou:

“Meu Senhor, eu sou aquela chorona, aquela mulher que mexia os lábios, mas não emitia som algum. Sou aquela mulher casada e séria que o senhor julgou bêbada e vagabunda. Sou aquela mulher estéril, ansiosa para engravidar e sentir as dores de parto. Sou aquela mulher machucada pela outra mulher de meu marido. Sou aquela mulher que estava no limiar de um desequilíbrio emocional. Sou aquela mulher que não comia nem bebia e carregava um semblante triste. Sou aquela mulher que recorreu à oração para superar um problema sem solução. Sou aquela mulher em cuja cabeça o senhor finalmente deitou as mãos para me dizer: ‘Vá em paz, e que o Deus de Israel lhe conceda o que você pediu’. Sou aquela mulher que fez o voto de dedicar ao Senhor o filho que porventura ele lhe desse por todos os dias de sua vida” (1 Sm 1.24-28, paráfrase).

Depois de deixar o pequeno Samuel nas mãos de Eli, Ana voltou para Ramataim com o marido e o outro filho no ventre. Ela engravidou outras três vezes e teve ao todo três filhos e duas filhas (1 Sm 2.21).

Editora Ultimato - edição 298

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